Upcycling. Recyling. Economia Circular. DIY. Fabricação digital. Slow fashion. Ciclo de vida. É bem capaz de você já ter encontrado diversos desses termos em eventos, artigos e postagens nas redes sociais. Essas palavras estão alavancando transformações profundas na forma que produzimos e consumimos bens e produtos.
Entretanto, antes de aprofundarmos nesses conceitos, vamos dar um passo atrás e entendermos o contexto que nos levou a esse novo olhar.
Começamos esse entendimento partindo do grande impacto que a revolução industrial no século XVIII trouxe para a produção e o consumo. As profundas mudanças nas relações de posse e produção no campo, as mudanças no processo artesanal para mecanizado na indústria têxtil e as novas formas de escoamento de produtos e novas rotas comerciais são o berço da intensificação da produção em série, da acumulação de capital e de uma organização social em torno de fábricas nas cidades.
Herdamos desse processo histórico uma economia baseada no processo extração-produção-consumo-descarte; um processo linear com início em um lugar, o meio em outro e o fim em um terceiro espaço. Os grandes lucros nesse modelo vêm do aumento do consumo, que precisa de uma aceleração na extração-produção e que gera, consequentemente, o aumento do descarte, fim do processo.
Mas alcançamos o limite dessa economia linear. A insustentabilidade da extração de recursos naturais, a perda de biomas e da biodiversidade, a poluição atmosférica, dos solos e hídrica, as mudanças climáticas e a infinidade de resíduos plásticos; resultados de séculos de um modelo que não se preocupou com esses aspectos. Esse modelo também não responde à redução da pobreza e das desigualdades, pelo contrário, cria uma relação de interdependência entre as pessoas, os territórios e entre os países.
Como decorrência, as dinâmicas sociais, econômicas e ambientais já começaram a desenhar a mudança necessária nesse modelo.
No último artigo já nomeamos essa mudança: o desenvolvimento sustentável – como conseguimos atender as necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras. Se você ainda não conferiu, vale a leitura.
Começamos a transição do modelo de produção e consumo, fazendo um paralelo aos ciclos ecológicos, conseguindo associar crescimento econômico a um ciclo positivo e responsável de desenvolvimento a partir da Economia Circular.
A Economia Circular parte de uma mudança no projeto e na otimização da fabricação de um produto visando reduzir as ineficiências e reaproveitar ao máximo o ciclo de vida de um produto. Assim, essa economia consegue gerar e recuperar valor dos produtos a longo prazo e a todos da cadeia. Reduzir, reutilizar, regenerar, reciclar e recuperar os materiais e os fluxos estão no centro desse modelo que tira as pessoas de um papel de “compradora” na linearidade do modelo anterior e as coloca como usuárias, donas e corresponsáveis pelos processos.
Diversas práticas começam a surgir a partir disso. O DIY – Do It Yourself / Faça Você Mesmo é a forma de colocar a pessoa como sujeito da produção, modificação e reparo dos objetos do seu entorno utilizando o material disponível. O upcycling traz um novo propósito ou uma melhor utilização para um material que seria descartado sem precisar decompor o material. O recycling, por sua vez, já traz a reinserção na produção dos materiais de um produto após o seu uso.
Se a indústria têxtil foi uma das pioneiras na formação e consolidação da economia linear, é a indústria da moda que assume hoje o protagonismo na aplicação desses conceitos. Movimentos dentro da moda, movimentos do slow fashion, valorizam a produção local, a regeneração criativa de materiais pelo upcycling e a cadeia transparente e responsável de produção.
Todos esses conceitos, essas práticas e movimentos, não são apenas uma tendência ou algo de momento. É uma nova forma de pensarmos como nossos hábitos, nossas escolhas e tecnologias conseguem nos levar a um futuro mais sustentável.
Como referência para você conhecer mais sobre o assunto:
Veja a história inspiradora da navegadora Ellen MacArthur, famosa por quebrar o recorde mundial por velejar ao redor do mundo, e se tornou uma das maiores lideranças sobre Economia Circular:
Conheça também sobre a Circular Week que promove anualmente eventos em várias cidades do mundo sobre economia circular e desenvolvimento sustentável: http://circularweek.org/