Por Geraldo Paim
Desde que a internet surgiu, a discussão sobre a distribuição de informações e obras digitais, suas autorias, vendas e recolhimento de direitos autorais vêm produzindo capítulos aos montes. O NFT é a nova página dessa história e promete render muitos desdobramentos.
O NFT (non-fungible tokens ou tokens não fungíveis, em inglês) nada mais é que um código específico marcado em uma peça de arte. Isso faz com que aquele produto seja original, único e exclusivo.
A peça pode ser copiada, claro, mas apenas a original possui o código. Outras cópias da mesma peça podem ter, cada uma, seu próprio código. Como uma numeração, que denomina a autenticidade daquela unidade.
Blockchains
Esse código é baseado em blockchain — também utilizado em criptomoedas como o bitcoin, fator que facilita a comercialização das obras.
Entre os blockchains disponíveis no mercado, a ethereum tem sido a mais empregada no NFT, já que ela conta com a própria criptomoeda; ether (ETH), facilitando ainda mais as transações. Mas também é possível comprar obras em NFT com outras criptomoedas e até com cartões de crédito.
O NFT será sempre controlado pelo proprietário do produto. Ele vai receber porcentagem sobre eventuais vendas, diminuindo ainda as chances de pirataria.
The Weeknd
O badalado rapper The Weeknd entrou na onda. Ele lançou sua primeira coleção de NFTs, batizada The Acephalous e composta por três produções audiovisuais, quatro imagens estáticas e uma peça única com uma música original nunca lançada do artista. Vendidas no marketplace Niffy Gateway, as peças arrecadaram mais de US$ 2 milhões.
Algumas peças tiveram preço fixo e foram ofertadas em tempo limitado. Outras foram vendidas sem código NFT. Quem comprou pode registrar. O cantor ainda ofereceu lotes com várias unidades da mesma peça e, para outras produções, utilizou o leilão silencioso, modalidade no qual os lances são invisíveis e os maiores deles faturam uma quantidade pré-estabelecida de edições do token. Teve ainda edição única de um vídeo em NFT com música nunca lançada pelo artista. O cara mergulhou de cara no assunto!
Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três!
Mas nem só de arte vive o NFT. Jack Dorsey, CEO do Twitter, colocou o primeiro tweet da história em um leilão. Para garantir sua originalidade, foi inserido no tweet um código NFT. A peça foi arrematada por 1.630 ether, o equivalente a US$ 2,9 milhões.
Elon Musk, CEO da Tesla Motors, não ficaria de fora dessa. Ele criou uma música sobre o assunto e anunciou para venda por NFT.
O artista digital Beeple publicou uma colagem com as imagens que ele postou no Instagram nos últimos 5 mil dias. A obra Everydays — The First 5000 Days foi registrada com NFT e vendida em um leilão por mais de US$ 69 milhões.
Como deu para perceber, o NFT pode ser usado em qualquer manifestação em campo digital, não apenas obras artísticas. E não necessariamente precisa valer uma fortuna, como os casos citados. A importância do código é o registro unitário, a autoria e controle de (algumas) vendas.
O novo disco da Banda Kings of Leon, “When you see yourself”, foi lançado em março e já arrecadou mais de 766.4 ETH, a moeda da Ethereum, ou seja, US$2 milhões (cerca de R$10 milhões).
O lado perigoso é que os impostores podem registrar NFT em uma obra digital que não pertence a ele para então vendê-la. Ou seja, lá vem mais um capítulo da novela internet x direitos autorais.