Por Leilane Stauffer
Educação financeira nem sempre está na pauta prioritária dos brasileiros. Saber quanto é gasto em cada grupo de despesas, como alimentação, moradia, educação, saúde, lazer, ainda é um desafio, por vários motivos, para a população. Isso sem mencionar a pequena parcela dos cidadãos que guardam recurso e possuem conhecimento em produtos financeiros disponíveis no mercado.
Conversamos com o professor Alexandre Mascarenhas, professor dos cursos de MBA em Finanças e Controladoria e em Gestão de Negócios da Newton. O docente avalia que a falta de conhecimento, os baixos níveis de renda e o estímulo ao consumo são motivos que levam a população a níveis crescentes de endividamento. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo –, publicada em 1º de setembro, o percentual de brasileiros endividados é o maior da série histórica da pesquisa, iniciada em janeiro de 2010.
O levantamento mostrou que, no mês de agosto, 67,5% dos brasileiros encontravam-se endividados por meio de alguma modalidade de crédito para pessoas físicas, como cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal e prestações de veículo ou imóvel. Deste total, 26,7% das famílias estavam com dívidas em atraso e 12,1% declararam não ter condições de quitar suas contas atrasadas.
“Para piorar, os brasileiros têm a tradição de fazer opção por créditos que oferecem mais facilidade, como cartão de crédito e cheque especial, que representam as modalidades de crédito com as taxas de juros mais elevadas praticadas pelo sistema financeiro no país, com custos médios de 300,3% no rotativo do cartão e 110,2% no cheque especial”, analisa o professor.
Diante desses pontos, em alguns contextos, o empréstimo pode ser vantajoso. “Utilizado de forma adequada, o crédito pode deixar de ser um vilão e passar a ser benéfico ao tomador. Trata-se do crédito consciente, com uso planejado, prudente e lúcido dos recursos, visando, por exemplo, pagar dívidas mais caras ou gerar renda”, sugere Alexandre.
Separamos, com o professor, algumas situações em que o crédito pode beneficiar o cidadão:
1 – Quitação de dívidas mais caras:
“O ideal é sempre termos uma reserva financeira de emergência para enfrentarmos momentos de gastos inesperados ou perda de renda por desemprego ou crise, como a atual pandemia de Covid-19, que reduziu drasticamente a renda dos brasileiros, principalmente os que atuam como profissionais liberais, autônomos e empresários de pequenas empresas”, pondera Alexandre. Mas para as pessoas que já se encontram em situação de endividamento, o administrador sinaliza que a obtenção de crédito, com menores custos do que as dívidas atuais, poderá permitir que o indivíduo obtenha significativa economia com despesas de juros e outros encargos.
2 – Geração ou ampliação de renda:
Direcionado a um contexto de aquisição de bens que gerem ou aumentem a receita familiar, como abertura do próprio negócio, aquisição de equipamentos para produção de alimentos e produtos caseiros ou de veículo para trabalhar como motorista de aplicativo, Alexandre Mascarenhas chama a atenção para planejamento adequado e criterioso. “Nesses casos, é essencial a elaboração de um plano de negócios, com as projeções de receitas e custos, incluindo os desembolsos relativos às parcelas do crédito necessário à aquisição e manutenção dos bens destinados à atividade.”
3 – Aquisição de imóvel:
“Com a recente redução das taxas de financiamento imobiliário, a aquisição de um imóvel pode ser vantajosa, quando o valor das prestações for inferior ao do aluguel ou, nos casos em que o perfil do adquirente seja o de uma pessoa que consiga se planejar para pagar as contas em dia, mas tem dificuldades em guardar dinheiro”, compartilha Alexandre. O docente alerta que é essencial que o comprador tenha recursos suficientes não apenas para o valor da parcela de entrada do bem, mas também para outros gastos, como despesas cartorárias, além de manter uma reserva de emergência.
4 – Outras situações em que o crédito pode ser vantajoso:
O professor cita outros casos, como quitar dívidas em atraso e regularizar a situação pessoal junto às centrais de risco de crédito como SPC e Serasa. “Também pode ser interessante em situações em que o crédito permita reduzir gastos, mediante pagamentos com desconto, como em casos de reforma de imóvel, em que há linhas específicas para essa finalidade, com taxas atrativas e que permitem ao tomador adquirir os materiais e serviços à vista, com descontos superiores aos custos do empréstimo”, cita.
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