Por Lígia de Matos
A mente prega muitos truques e aquilo que achávamos certo hoje podemos não achar amanhã, ou mesmo em alguns minutos. Como isso é possível? O pesquisador sueco Petter Johansson fez uma série de experimentos para explicar essa possibilidade, entender como funcionam as nossas escolhas, e acabou descobrindo algumas coisas muito interessantes.
Você se conhece? Sabe explicar porque prefere o item A e não o B, quando as duas opções lhe são mostradas? Entende o que te leva a achar uma pessoa mais atraente que a outra? Você realmente sabe dizer o que motiva as suas preferências? Hora de rever seus conceitos ou, pelo menos, pensar um pouco mais sobre eles.
Petter é psicólogo experimental e reuniu um grupo de pessoas para realizar seus experimentos. Ele mostrou duas fotografias a cada uma delas e pediu que escolhessem a que achavam mais atraente. O que os participantes não sabiam é que ele também é mágico amador e tem alguns truques na manga! Após a escolha “da mais atraente”, usando o poder da distração, ele entregou a cada um dos participantes a fotografia que não havia sido selecionada.
E agora vem a pergunta: sabe quantos perceberam a troca? Apenas 25%. Ou seja, três quartos do grupo não notaram que estavam com a fotografia errada, apesar de as pessoas nas duas imagens terem características distintas, como cor de cabelo e acessórios. E os participantes ainda explicaram porque a tinham escolhido, apesar de não terem selecionado aquela foto! Muito bizarro, não é mesmo?
Ao serem questionados pela escolha, disseram porque aquele rosto era preferível, mesmo que segundos antes sua opção fosse outra. Alguns dos argumentos eram do tipo “porque eu prefiro pessoas que usam brinco”, sendo que a foto selecionada originalmente mostrava alguém sem brinco. Ou seja, fica claro que esse não pode ter sido realmente o motivo. Quando o pesquisador contou o que tinha acontecido, as pessoas ficaram muito surpresas e algumas até não acreditaram. Mas como explicar esse fenômeno?
Possíveis conclusões
Para o pesquisador, aparentemente, não temos uma compreensão clara do motivo de escolhermos o que escolhemos. E sua pesquisa não se limitou a perguntas sobre atração física, mas incluiu também inclinações políticas, por exemplo. Ele utilizou a situação sociopolítica da Suécia para incrementar e ampliar a coleta de dados de seus experimentos, pois naquele país, direita e a esquerda possuem posições bem definidas e popularmente conhecidas.
Ele selecionou alguns temas polêmicos e as respostas por escrito – também trocadas – foram devolvidas. As pessoas de esquerda receberam as respostas de direita e vice-versa e foram então solicitadas a justificar seus pontos de vista. Novamente, aconteceu o impensável: a maioria das pessoas não percebeu a mudança.
Quem defendia o aumento de impostos passou a explicar porque acreditava que aquele aumento não deveria acontecer e, vale destacar, com argumentos bastante plausíveis. Isso não seria estranho se eles não tivessem, minutos antes, dito o contrário. Mas enfim, o que isso significa?
Um dos pontos levantados pela pesquisa é a necessidade de mais tolerância, pois as pessoas mudam de ideia, mesmo sem se darem conta disso. Petter ressaltou que as pessoas têm um senso bastante crítico quando a opinião do outro muda, mas não “enxergam” essa variação em si mesmas. Temos o direito de mudar, se assim desejarmos.
No caso das ideologias políticas, a pesquisa mostrou que as pessoas não estão conectadas com os ideais dos partidos, como se esperava, mas sim às pessoas. A conexão é pessoal, mesmo que aquele candidato ou governante mude seus pensamentos e pontos de vista, continuamos seguindo a pessoa.
Outra conclusão que a pesquisa trouxe foi que o truque da troca acaba tendo um impacto duradouro. No caso da escolha por atração, quem escolheu a imagem de um moreno e depois justificou que preferia o louro (da foto trocada), confirmou essa preferência posteriormente, pois passou a acreditar em seus próprios argumentos pela nova escolha.
O mesmo vale para as opiniões políticas. Uma semana depois, os participantes defenderam o argumento “errado” ou manipulado e justificaram sua escolha destacando algo que estava ausente na opção original. Interessante como funciona a mente humana, não é mesmo?