Esta coluna será nosso espaço para conhecermos tendências e discutirmos projetos sobre tecnologia, sustentabilidade e inovação. Temas tão amplos que nos permitirão trazer novas perspectivas, conectar-nos com ideias simples e brilhantes, e aprofundarmos naqueles assuntos que despertam mais nosso interesse.
Na estreia dessa coluna, vamos trazer para discussão o domínio onde essas três esferas se encontram: o desenvolvimento sustentável. A Organização das Nações Unidas define desenvolvimento sustentável como aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações atenderem a necessidade delas. Teremos muito assunto interessante sob esse guarda-chuva para compartilhar: casos de cidades sustentáveis, tecnologias verdes futuristas e inovações sociais que dão oportunidade para a base da pirâmide.
Como primeiro artigo da nossa coluna, decidi compartilhar uma das inovações que mais está atraindo atenção neste contexto do enfrentamento à pandemia do COVID-19.
Essa pandemia já é o maior acontecimento de impacto global desde a Segunda Guerra Mundial. Isso porque ela moveu tudo: levou bilhões de pessoas a se isolarem socialmente, está causando forte retração econômica e está evidenciando nossas maiores desigualdades. Por fim, ela está questionando os nossos modelos que nos trouxeram até aqui. Nosso modelo de produção e consumo. Nosso modelo de organização social. Nosso modelo econômico.
É justamente um novo modelo econômico que está no centro da reconstrução que o mundo precisa agora.
A cidade de Amsterdã é a primeira cidade no mundo a adotar esse modelo. O nosso modelo de geração de riqueza, de oferta e demanda, e de crescimento econômico como prioridade, principalmente após o lockdown imposto pela pandemia, não é sustentável. O que significaria esse momento de recuperação econômica para uma cidade que já possuía problemas de habitação e moradia, altas taxas de emissão de CO2 e alto custo de vida?
Para os governantes locais, a crise global permitiu evidenciar que é extremamente falho enxergamos e entendermos prosperidade de uma cidade e de um país pela geração de riqueza, pelo PIB. Para Amsterdã nessa nova perspectiva, prosperidade significa bem-estar em equilíbrio. O desafio de saúde global da pandemia do COVID-19 mostrou a importância do bem-estar do nosso corpo; agora, a cidade quer conectar a saúde do corpo com a saúde do planeta.
O novo modelo econômico de Amsterdã está mostrando uma alternativa ousada pós pandemia é conhecido como o modelo donut, ou o modelo da rosquinha, que foi criado pela economista britânica Kate Raworth da Universidade de Oxford.
Como funciona o “modelo do donut/da rosquinha”?
Atender a demanda de todos dentro dos limites do planeta. Este é o grande objetivo desse modelo, que visualmente possui o aspecto de uma rosquinha.
Nessa rosquinha, o círculo de dentro define o mínimo necessário para uma vida digna. São aspectos conectados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, acordado pelas lideranças globais, passando por comida para todos, acesso a água potável, qualidade de educação, acesso a moradia digna, igualdade de gênero, promoção de saúde. Quem não consegue atender a esses aspectos, está no buraco da rosquinha.
O círculo exterior representa os limites ambientais do planeta. O lado de fora da rosquinha significa os graves danos ambientais como as mudanças climáticas, os danos permanentes e irreversíveis aos solos, oceanos, biodiversidade e à água potável.
Entre os dois círculos, temos a rosquinha, a região em que conseguimos atender o bem-estar de todos dentro dos limites ecológicos do mundo.
Como é a aplicação prática desse modelo?
O mundo irá aprender muito com o caso de Amsterdã. Para os governantes e a população local, o modelo permitiu conectar soluções e desafios diferentes. Por exemplo: o desafio de moradia inacessível da cidade não pode ser simplesmente resolvido com a construção de várias moradias populares. Isso porque a cidade possui altos índices de emissão de gases estufa e a importação de materiais de construção é um dos grandes responsáveis por isso. A resolução desse desafio, então precisa da implementação de materiais e métodos construtivos sustentáveis.
Este é apenas um caso do modelo da interconexão e inter-relação necessária dos elementos para garantir uma economia regenerativa e distribuída numa sociedade segura e justa. A crise global irá permitir a reconstrução a partir das falhas do modelo que nos trouxe até aqui. A nossa geração será capaz de ver crescer e se consolidar, quem sabe, um período pós-capitalismo.
Conheça mais desse modelo assistindo a palestra no TED da economista que criou o modelo:
O Local e o Global. Novas Economias. Negócios. Startups. Pessoas. Empreendedorismo. Educação. Tecnologia. Sustentabilidade. Inovação. Vamos esbarrar muito com esses tópicos por aqui. Até nosso próximo artigo!