21 de novembro de 2024
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A Enciclopédia Negra: conheça 5 personalidades negras que a história brasileira não pode esquecer

Por Ítalo Mendes

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, realizada pelo IBGE, aponta que mais de 50% da população brasileira é formada por negros ou mestiços. Porém, o mesmo Brasil que aponta a diversidade, também persiste em condutas de discriminação racial. Uma das consequências disso é o apagamento da história de inúmeros homens e mulheres negras que participaram da construção do nosso país. São líderes, precursores, revolucionários, ativistas e protagonistas de diversos acontecimentos que deveriam ser lembrados ou reconhecidos com mais frequência.

Para solucionar parte desse problema, chegou às livrarias a obra “Enciclopédia Negra: Biografias afro-brasileiras”, dos autores Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriani e Lilia Moritiz Schwarcz. A publicação reúne, em mais de 400 verbetes, 550 personalidades negras que mudaram a nossa história. Como um pequeno spoiler, listamos 5 delas para vocês.  

1 – Abdias do Nascimento (1914-2011)

O primeiro nome catalogado no livro é o do ator, dramaturgo, diretor e ativista Abdias do Nascimento. Entre várias frentes de luta contra o racismo, ele foi o grande responsável pela criação do Teatro Experimental do Negro (TEN), em 1944. Foi um movimento político e cultural que transformou a vida de artistas e intelectuais afrodescendentes brasileiros, abrindo caminhos para outros nomes importantes que surgiram na história teatral brasileira.

Abdias, até o seu falecimento em 2011, aos 97 anos, ainda se tornou uma artística plástico reconhecido internacionalmente, participou da Assembleia Constituinte Brasileira de 1946, organizou o Congresso do Negro Brasileiro, foi perseguido pela ditadura militar, se tornou deputado federal, senador e muito mais.

Apesar de ser o primeiro no livro apenas pela ordem alfabética, certamente é o verbete perfeito para motivar quem deseja seguir na leitura do material.

2- Benjamin de Oliveira (1870-1954)

Mineiro da região da Fazenda dos Guardas, atual cidade de Pará de Minas, Benjamin Chaves é considerado o primeiro palhaço negro do Brasil. Filho do capataz de fazenda, Malaquias Chaves e de Leandra de Jesus, escrava considerada de “estimação” pela família da mesma fazenda, ele nasceu alforriado.

Aos 12 anos, já havia trabalhado como candeeiro, guarda-freio e vendia bolos aos frequentadores dos circos que apresentavam espetáculos na região. Como apanhava diariamente, na maioria das vezes pelo próprio pai, em uma dessas oportunidades de visita circense ele decidiu fugir com o Circo Sotero. Lá, apelidado de Beijo, ele aprendeu acrobacias, corda indiana, trapézio, saía às ruas para divulgar os espetáculos e se tornou Benjamin de Oliveira, ganhando o sobrenome do artista da companhia, Severino de Oliveira.

Após três anos, ele fugiu novamente e entre vários trabalhos em circos por Minas Gerais e São Paulo, conquistou a primeira remuneração como acrobata com o norte-americano Jaime Pedro Adayme. É nesta companhia que ele assume, pela primeira vez, o papel de palhaço. Apesar da repercussão ruim em suas primeiras apresentações, ele consegue se estabelecer e conquistar, ao longo dos anos, entre outros circos, o reconhecimento merecido.

O sucesso possibilitou que ele gravasse seis discos pela Columbia Records e se tornasse um expoente do circo-teatro no Rio Janeiro.

3- Amélia Rosa (sec. XIX)

No século XIX, no estado do Maranhão, era frequente a perseguição às religiões afro e, consequentemente, aos terreiros afro-maranhenses, inclusive com grande apoio da imprensa da época.

Nesse cenário, na década de 1870, Amélia Rosa, conhecida como a rainha da Pajelança, foi acusada pelas autoridades policiais de realizar práticas africanas e feitiçaria. Com a prisão decretada em 1876, a curandeira provocou uma procissão formada pela população negra da cidade.

Por um longo tempo, mesmo após o período escravocrata, os cultos religiosos dos negros foram discriminados e realizado às escondidas. A história de Amélia não apenas traz luz ao assunto, explicando as origens dos preconceitos, como também abre portas para as manifestações de liberdade.

4 – Roque José Florêncio (1828-1958)

Na época da escravidão, havia uma lenda de que homens altos e com canelas finas tinham mais chances de gerarem filhos homens. A crença então era utilizada para que esses prováveis filhos se tornassem mão de obra escravizada.

Foi para essa missão que o latifundiário Francisco da Cunha Bueno, morador da região de São Carlos, no estado de São Paulo, comprou Roque José Florêncio, um negro de 2,18 metros de altura.

Apelido de Pata Seca, por ter mãos longas e finas, assim como muitos outros, ele era obrigado a frequentar as senzalas com frequência para violar as escravas que ali viviam. Acredita-se que ele tenha gerado mais de 200 filhos, o que reforça a estimativa de que, atualmente, mais de 30% dos moradores de Santa Eudóxia, distrito de São Carlos, sejam seus descendentes.

Mesmo com incertezas históricas sobre o seu nascimento, documentos mostram que ele viveu até os 130 anos. Pelo status conquistado como reprodutor, mantinha uma boa relação com seu patrão, realizando outras funções na fazenda. Em uma delas conheceu a sua esposa e ganhou de Cunha alguns alqueires de terra, que foram em boa parte usurpados por outros moradores, já que ele não recebia dinheiro suficiente para realizar o cercamento do terreno.

Pelo apagamento da história, além dos relatos dos moradores da região, quase não há detalhes sobre a história real de Roque.

5 – Ana Clara Maria Andrade, Isabel Maria da Conceição e Deolinda (XIX)

Em 20 de janeiro de 1870, a edição do Jornal do Commércio noticiava a seguinte reportagem:

“ATE O BELO SEXO – Na rua do Riachuelo, antehontem a noite, Izabel Maria da Conceição, vulga Nené, Ana Clara Maria de Andrade, e Deolinda, escrava de D. Bandeira de Gouveia, foram presas por estarem em renhida luta, e tanto haviam brigado que pareciam estar sem forças […] quando empenhão qualquer luta mostrão ser peritas na capoeiragem. Os urbanos do 10º Distrito conhecem-nas e são os primeiros a dizer que elas merecem o título de destemidas. Era só o que faltava.”

Pouco se sabe da história das três mulheres além do pequeno texto repleto de sátiras. Porém, é válido destacá-las pelo ato precursor, já que a capoeira só se popularizou entre mulheres na segunda metade do século XX.

Nomeada como dança, luta ou ritual, a capoeira foi um ato de resistência negra contra as autoridades da época. Consequentemente, os primeiros registros da prática são encontrados justamente nas páginas policiais. Somente em 2014, a Roda de Capoeira foi tombada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.

Para saber mais informações sobre o livro, acesse.

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