Por Leilane Stauffer
O período do desemprego está entre os momentos mais desafiadores para lidar durante a carreira. Você já passou por ele? Com a pandemia do novo coronavírus, a busca por recolocação no mercado de trabalho tem sido a realidade de muitos brasileiros. Segundo o levantamento da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o país registrou o recorde de 13,8% na taxa de desemprego no trimestre até julho de 2020. A pesquisa, divulgada no último dia 30 de setembro, mostra que, em apenas um trimestre, 7,214 milhões de brasileiros perderam o emprego. A porcentagem de 13,8% aponta que 13,1 milhões de pessoas não estão empregadas, pior indicativo desde que a pesquisa foi iniciada, em 2012.
Diante desse contexto, experimentado por tantas pessoas, um sentimento comum está associado a ele: a vergonha de estar desempregado. Conversamos com o professor Saulo Rodrigues, do curso de Psicologia da Newton, sobre o assunto. Ao indicar o livro do psicossociólogo francês Vincent de Gaulejac chamado As origens da vergonha, o professor explica que esse sentimento se constrói a partir de vários caminhos, como violências humilhantes, pobreza, expectativas familiares frustradas, entre vários outros. “Se considerarmos o lugar que o trabalho ocupa, tanto do ponto de vista concreto, quanto no campo da moral, temos os ingredientes para a produção do sentimento de vergonha”, pontua.
Na ótica do professor, o sentimento se explica também pela cultura e pelo valor que damos ao trabalho. “Para entender como o desemprego pode afetar a saúde mental, por exemplo, precisamos nos lembrar que o trabalho é central em nossa vida, é construtor de subjetividade. E se, além disso, considerarmos o que o trabalho passou a ocupar no campo da moral, colocando-o como uma exigência que vai além da necessidade concreta – quase no campo das virtudes –, então, teremos elementos que fazem com que o desemprego produza repercussões na vida que vão além da falta de renda”, observa.
O que fazer para lidar com a situação?
Saulo indica, a partir da leitura do psicossociólogo francês, que essa mesma vergonha é também responsável por construir o vínculo social e ser propulsor de caminhos de sucesso. Curioso, não? “Até as experiências mais dolorosas e que algumas vezes parecem nos paralisar podem ser ressignificadas e servirem como fonte de desenvolvimento em nossa vida”, defende. O professor sugere duas ações para enfrentar e transformar o momento.
Entrar em redes de apoio ao trabalhador desempregado: trocar experiências com pessoas que passam por situação parecida, circular em ambientes que construam novas possibilidades e fazer o networking aumentam o potencial de empregabilidade e ajudam no processo de entendimento da situação.
Buscar autoconhecimento por meio da psicoterapia: segundo Saulo, além das repercussões negativas do desemprego, ligados à conjuntura, entram aspectos relacionados às vivências singulares, à história de vida, que vão indicar as razões de algumas pessoas se abaterem mais que as outras. Há espaços que oferecerem gratuitamente o serviço e a Newton é um deles, por meio da Clínica-Escola de Psicologia. Para solicitar atendimento gratuito durante o período da pandemia, os interessados deverão enviar um email para fernanda.abreu@newtonpaiva.br. No título do email, deve constar: Atendimento Psicológico, e no corpo, o nome completo, idade e telefones de contato.