Por Luciana d’Anunciação
Você sabia que 11 de fevereiro é o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência? Para incluir e dar cada vez mais visibilidade para meninas e mulheres na Ciência, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou, em 2015, a data. O objetivo é celebrar, anualmente, os grandes feitos das mulheres na ciência, e encorajar meninas e jovens a se dedicarem à carreira científica, superando cada vez mais barreiras, como estereótipos e falta de acesso.
Atualmente, há ainda muita desigualdade de gênero na ciência. Segundo levantamento realizado em 2019 pelo Instituto de Estatística da Unesco, menos de 30% dos pesquisadores no mundo são mulheres. E de acordo com uma pesquisa publicada em 2017, em nosso país as mulheres ocupam apenas 14% das posições na Academia Brasileira de Ciências.
Que tal conhecer algumas mulheres que escreveram seus nomes na história científica do Brasil, para se inspirar? Apresentamos essa lista a você, incluindo também cientistas que seguem atuando para o desenvolvimento da ciência brasileira.
1 – Nise da Silveira (1905-1999)
Graduou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia e dedicou a sua vida à psiquiatria. Contrária às formas agressivas de tratamento a pacientes com doenças mentais, a médica revolucionou os métodos de atendimento aos portadores de transtornos mentais no Brasil. Foi ainda a pioneira nas pesquisas das relações emocionais entre pacientes e animais e na reforma psiquiátrica no país.
2 – Bertha Lutz (1894-1976)
Formada em Ciências Naturais pela Universidade de Paris, com especialização no estudo de anfíbios. Ingressou, por concurso público, como bióloga no Museu Nacional onde chegou a ser chefe do setor de Botânica, sendo a segunda mulher a entrar no serviço público brasileiro. Atuou pela defesa do conhecimento científico brasileiro, da formação científica, do combate a doenças, da proteção à natureza e da conservação da fauna e da flora nacional. Considerada uma das maiores líderes na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras, ajudou na criação, em 1919, da Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, origem da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF). Bertha integrou ainda a delegação do Brasil na Conferência de São Francisco, em 1945, que resultou na criação da ONU.
3 – Johanna Dõbereiner (1924-2000)
Nasceu em Aussig, Checoslováquia. Em 1947, iniciou o curso de Agronomia na Universidade de Munique. Em 1948, emigrou para o Brasil, onde começou a trabalhar no Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola, atual Centro Nacional de Pesquisa em Agrobiologia da Embrapa. Suas pesquisas sobre fixação biológica do nitrogênio, em leguminosas tropicais, foram fundamentais para que o Brasil desenvolvesse o Programa Nacional do Álcool e se tornasse o segundo produtor mundial de soja. Em 1997, foi indicada ao Nobel de Química.
4 – Enedina Alves Marques (1913-1981)
Primeira mulher a se formar em Engenharia Civil, em 1945, no Paraná, e a primeira engenheira negra do Brasil. Trabalhou no Plano Hidrelétrico do Paraná e no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu. A Usina Capivari-Cachoeira é considerada sua maior realização como engenheira. Dentre outras obras, destacam-se o Colégio Estadual do Paraná e a Casa do Estudante Universitário de Curitiba (CEU). No ano de 2000, foi imortalizada no Memorial à Mulher, na capital do Paraná, ao lado de outras 53 mulheres pioneiras do Brasil.
5 – Lélia Gonzalez (1935-1994)
Intelectual, política, professora e antropóloga mineira. Graduada em História e Filosofia, mestra em Comunicação e doutora em Antropologia Social. No doutorado, especializou-se em Antropologia Política, dedicando sua pesquisa em gênero e etnia. Ministrou, de forma pioneira, cursos de Cultura Negra no Brasil, entre 1976 e 1978. Foi Diretora do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio. Ajudou a fundar o Movimento Negro Unificado (MNU), o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), o Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga e o Olodum. Atuou, de 1985 a 1989, no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM).
6 – Maria José Von Paumgartten Deane (1917-1995)
Graduou-se pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, em 1937. Reconhecida como cientista e parasitologista de fama internacional, suas pesquisas foram fundamentais para melhorar a saúde pública brasileira, por meio da erradicação das epidemias. Percorreu o país de ponta a ponta, com o marido e cientista Leonidas de Melo Deane, dedicando-se às pesquisas de campo e de laboratório. Participou da fundação de várias instituições da área da saúde: Instituto de Patologia Experimental do Norte, Instituto Evandro Chagas, Serviço de Malária do Nordeste, Serviço Especial e Saúde Pública. Em 1953, transferiu-se para a Faculdade de Medicina da USP. Em 1973, por causa da ditatura militar, exilou-se em Portugal e posteriormente na Venezuela. De volta ao Brasil, na década de 1980, trabalhou no Instituto Oswaldo Cruz (atual FIOCRUZ), onde atuou como chefe do departamento de Protozoologia e vice-diretora.
7 – Maria da Conceição Evaristo de Brito
Escritora mineira, mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Uma das mais importantes escritoras brasileiras da contemporaneidade, aborda em suas obras, em especial no romance “Ponciá Vicêncio”, temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. Autora de contos, poemas e romances, parte deles traduzidos para o inglês e o francês, e também de ampla obra teórica. Em 2015, foi finalista do Prêmio Jabuti e recebeu em 2018, o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra.
8 – Sonia Guimarães
Física, com doutorado em Materiais Eletrônicos, pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade de Manchester (Inglaterra). Primeira mulher negra brasileira doutora em Física e primeira mulher negra a lecionar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA. Ingressou na instituição em 1993, quando o ITA ainda não aceitava mulheres como estudantes. Defensora da presença de mulheres nas Ciências Exatas e no próprio ITA, atua em projetos feministas e com projetos voltados para estudantes carentes para a maior inclusão de mulheres e pessoas negras no ambiente acadêmico.
9 – Márcia Cristina Bernardes Barbosa
Graduada, mestre e doutora em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especializada em estruturas complexas da molécula de água, desenvolveu uma série de modelos que podem ajudar a resolver os problemas de escassez de água doce e a melhorar a compreensão sobre variados tópicos: como ocorrem terremotos, como a energia mais limpa é gerada e a forma de tratar as doenças. Ganhou, em 2013, o prêmio L’Oréal-Unesco de Mulheres nas Ciências Físicas e o prêmio Claudia em Ciência. Por sua atuação em questões de desigualdade de gênero na ciência, principalmente na Física, recebeu a Medalha Nicholson da American Physical Society. Em 2016, ganhou o Prêmio Anísio Teixeira da CAPES, por sua atuação pela pós-graduação. E recebeu, em 2018, da presidência da república, a Medalha do Mérito Científico como comendadora, pelo trabalho em prol da ciência.
10 – Mayana Zatz
Natural de Tel Aviv (Israel), graduou-se em Biologia na USP e é mestre e doutora em Genética, também pela USP. Geneticista reconhecida internacionalmente, sua pesquisa foca em doenças neuromusculares como distrofias, paraplegias espásticas e esclerose lateral amiotrófica. Em 1995, localizou, de forma pioneira, um dos genes ligados a um tipo de distrofia dos membros, junto com Maria Rita Passos-Bueno e Eloísa de Sá Moreira. Juntas, também realizaram o mapeamento do gene responsável pela Síndrome de Knobloch. Em 2000, foi condecorada com a grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico e recebeu também a Medalha de Mérito Científico e Tecnológico do Governo do Estado de São Paulo. Em 2001, em Paris (França), recebeu o prêmio latino-americano L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência.
Você já conhecia estas mulheres? Sabe de outras cientistas que atuam para o desenvolvimento da ciência no Brasil? Compartilhe com a gente!