25 de abril de 2024
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Gostar de ver tragédias pode significar muito mais que “só curiosidade”, sabia?

Por Fernanda Nazaré

Se engana quem pensa que programas de TV como o “Você Decide”, sucesso da TV Globo nos anos 1990, que encenava crimes e dramas para o público decidir o final foi uma fórmula inventada pela emissora. O ser humano gosta de ver uma tragédia e opinar sobre isso desde o século IV antes de Cristo (!!!), quando os gregos inventaram o teatro e, desde então, cenas dramáticas eram garantia de sucesso de audiência. Mas até que ponto gostar de ver tragédias é saudável?

Aposto que desde o início da pandemia do coronavírus, há um ano, você já ouviu alguém dizer: “Parei de assistir jornal, não aguento mais ver tragédia”. Ou o contrário: “Fulano fica com a TV o dia todo ligada acompanhando notícias da Covid-19!”. Esse movimento coletivo de acompanhar acontecimentos dramáticos, na TV ou nas redes sociais, mostra como os seres humanos também gostam de sofrer e torcer em companhia, mesmo que virtualmente. Ao se projetar em alguma tragédia que não necessariamente tenha a ver com o que se vive, a pessoa se sente compreendida. Essa é uma maneira de também aprender alguma lição com aquela situação.

Mas outro fator que pode indicar a predileção de alguém por temas macabros e de sofrimento é estar com o emocional já abalado – o que explicaria o sucesso das letras de “sofrência” da cantora Marília Mendonça. Quando estamos para ‘baixo’ temos a tendência natural de querer ver coisas tristes, para chorar e se sentir aliviado, ou então refletir por comparação ao perceber que a vida não está tão ruim assim e melhorar o astral.

Complete a frase: Tudo que é demais faz…

…mal! Essa é uma verdade incontestável em qualquer situação; seja comer demais, trabalhar demais, malhar demais etc. Uma hora ou outra os danos cometidos por quem está cometendo excessos irá surgir. No caso de gostar de ver tragédias, pode acabar virando um “vício” e até revelar algo mais sério por trás, como algum transtorno ou obsessão.

Depois dos smartphones é cada vez mais comum ver flagras de acidentes na internet. Uma coisa é estar no local para acionar o Samu, informar, conscientizar e garantir a proteção de quem possa passar por ali; outra é usar a tragédia para se autopromover, sobretudo nas redes sociais. Hoje em dia, não é raro ver pessoas filmando uma cena de violência, de morte ou que exigiria ajuda de terceiros mas, esses terceiros estão mais preocupados em pegar o melhor ângulo com o celular e postar do que ajudar realmente. Posturas como essa, em que o “espetáculo” vem primeiro do que o socorro a alguém, já não é sinal de uma saúde mental perfeita.

Pode soar perverso, mas da mesma forma que existem pessoas que torcem para os vilões da ficção e mesmo assim possuem uma boa conduta social, há aquelas que também sentem um certo contentamento ou fetiche mórbido ao presenciar o sofrimento alheio.

Fique de olho

Quando assuntos negativos passam a dominar as conversas de alguém, é possível ver uma diminuição em suas atividades de “lazer” e até o afastamento de amigos e familiares. Esses são sinais de alerta para solicitar uma avaliação da saúde e o contexto de vida em que está inserido.

Assim como sentimos curiosidade com temas trágicos, também buscamos alguma leveza para equilibrar a nossa existência. A consequência desse desequilíbrio pode acarretar fuga da realidade, sintomas depressivos, ansiedade e pânico. Isso porque focar demais no que é ruim libera cortisol, hormônio do estresse que é muito prejudicial à saúde em excesso.

Na dúvida, é sempre melhor procurar a orientação de um psiquiatra/psicólogo e fazer uma avaliação.

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