Por Ítalo Mendes
Após 58 anos, 24 filmes e 5 homens no papel que dá título ao filme, a franquia 007 anunciou a grande revolução em seu universo cinematográfico. O espião mais popular do serviço secreto britânico será agora interpretado pela atriz britânica Lashana Lynch, a Maria Rambeau, de Capitã Marvel, no filme previsto para estrear em abril de 2021, 007 – Sem Tempo para Morrer. Interpretando a personagem Nomi, ela será a primeira mulher negra no papel e dará sequência ao legado de James Bond, que em 007 – Contra Spectre, lançado em 2015, decidiu se aposentar.
Esse último filme com o ator Daniel Craig encerrará o ciclo de 4 filmes que conquistaram bons números de bilheteria. Porém, primeiramente, é válido lembrar que, lá em 2006, Craig havia sofrido críticas por não seguir o estereótipo das primeiras versões da história, normalmente interpretado por um ator branco, alto e de cabelos pretos. Em entrevista à época para a Folha de São Paulo, ele respondeu: “Diziam que eu era muito baixo, muito feio e muito loiro e que não tinha estilo para viver o James Bond. Foi ruim, mas, agora que o filme está feito, podem dizer o que quiser. Inclusive que sou feio, baixo e loiro.”
Considerando o retrospecto de alguns fãs da saga, que também protestaram quanto à possibilidade de que o ator negro Idris Elba se tornasse o protagonista, as críticas a Lynch já eram esperadas. Soma-se isso à repercussão machista que algumas outras produções recentes tiveram, quando decidiram realizar versões de filmes clássicos com o protagonismo feminino, como Caça Fantasmas, 2016, e Oito Mulheres e um Segredo, 2018.
Os ataques racistas e machistas sofridos pela atriz fizeram com que ela se privasse das redes sociais, meditasse e se encontrasse apenas com a família durante uma semana. Quando retornou, em entrevista para a Harper’s Bazaar, ela deu o seguinte depoimento. “Eu sou uma mulher negra – se fosse outra mulher negra escalada para o papel, teria sido a mesma conversa, ela teria os mesmos ataques, o mesmo abuso. Só preciso me lembrar de que a conversa está acontecendo e que sou parte de algo que será muito, muito revolucionário.”
Para quem estava acostumado apenas com as nomeadas “bond girls”, também interpretadas por atrizes renomadas mundialmente, como Halle Berry, dos longas em que Pierce Brosnan fazia o agente secreto, e Eva Green, parceira de Craig, a expectativa com a nova proposta é finalizar a ideia do que é popularmente chamado de “donzela em perigo”, e posicionar a personagem feminina como destaque nas tradicionais cenas de ação que marcaram os filmes. O argumento é reforçado pela fala de Lynch, ainda na mesma entrevista. “Eu me sinto muito grata por poder desafiar essas narrativas. Estamos nos afastando da masculinidade tóxica e isso acontece porque as mulheres se tornaram mais abertas e estão exigindo, falando sobre o assunto, chamando a atenção para comportamentos ruins assim que nós os encontramos.”
Além da estreia da personagem em 2021, a expectativa que cresce é a de que filmes solos venham a ser anunciados na sequência.
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