8 de maio de 2024
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Por que as músicas-chiclete grudam na cabeça?

Por Geraldo Paim

Em inglês, elas são conhecidas como earworms (ou “vermes de ouvido”), mesma denominação usada na Alemanha, Ohrwurm. Na França, musique entêtante (música teimosa); na Itália, canzone tormentone (canções tormentosas). Por aqui, são as famosas músicas-chiclete. Engana-se quem acha que as canções que grudam na cabeça são privilégios de quem presenciou a cena pop pra cá. Antes da invenção do fonógrafo por Thomas Edison, em 1876, o escritor Mark Twain já citava a “maldita musiquinha pegajosa que fica presa em uma repetição mental” em seu conto “Um pesadelo literário”.

A repetição realmente é um dos pontos mais importantes nesse fenômeno, entre vários outros. Vamos lembrar que a música é multissensorial. Ela desperta sentimentos, ideias e sensações variados, através do ritmo, melodia, letra e timbre. Por isso, é preciso elencar um conjunto de coisas que estimulam essa síndrome, presente em mais de 90% de nós, de acordo com os Anais da 10ª Conferência Internacional sobre Percepção Musical e Cognição, realizada em 2008 no Japão. Segundo o estudo, 98% das pessoas passam por isso pelo menos uma vez na vida. Separamos alguns pontos para comentar por que isso ocorre.

Repetição

A música popular de praticamente todo o Ocidente é inspirada na música modal. Originada da música ritualística de povos africanos, orientais ou nativos americanos, essa classificação privilegia a circularidade – pontos que voltam para um mesmo eixo na música – e a repetição de células. Tal padronização vigora até hoje através das infalíveis fórmulas de sucesso presentes na composição dos hits da música pop. Entre eles, o “o gancho”, um fraseado musical curto e marcante que se repete várias vezes ao longo da canção. Produtores e compositores ao redor do planeta concordam que o gancho precisa aparecer a cada sete segundos na música. O efeito que isso causa é explicado pela psicoacústica. É como se o cérebro recebesse uma recompensa e ficasse atento para ganhar outra.

A repetição rítmica também contribui para eficácia das músicas-chiclete. O ritmo repetitivo até altera a nossa consciência, dissipando-a na medida em que você se concentra naquela repetição. Imaginou uma rave ou micareta agora?

Essa explicação ajuda também a entender por que a música é usada na meditação e na educação.

Associação, emoção e memória

Chama-se imaginário musical involuntário o fenômeno provocado por uma combinação de fatores emocionais com a memória. É ele que abre espaço para que de músicas repitam por horas a fio nas nossas mentes. Os gatilhos são muitos e ligados a sentimentos e lembranças. Ficar feliz, apaixonado, triste pode fazer você se lembrar de músicas que ouviu em situações similares. Por outro lado, quando você está cansado, sob estresse ou até entediado, seu cérebro baixa a guarda. É aí que a coisa acontece: ou aquela musiquinha grudenta emerge no pensamento com tudo ou o cérebro, nesse estado, capta para sempre uma canção que estiver involuntariamente passando por perto dos seus ouvidos nesse momento.

Um estudo da Faculdade de Dartmouth, nos EUA, usou imagens de ressonância magnética funcional para localizar os substratos neurais que suportam imagens auditivas não solicitadas. Segundo o trabalho, quando uma música tocava, era ativado o córtex auditivo primário esquerdo, área do cérebro responsável pela audição. A mesma área foi ativada quando foi pedido ao participante para imaginar a música. O resultado sugere que o “verme do ouvido” se alimenta do sistema de memória do córtex auditivo. O córtex auditivo está localizado no lobo temporal, uma área do cérebro afiliada à memória de curto prazo. Esse sistema de memória de pequena duração é o que provoca o “loop fonológico”, disparado pela música-chiclete.

Formato do sucesso

Além da já citada repetição, as músicas-chiclete costumam ter em comum um modelo. Elas tendem a ter notas com durações mais longas e/ou com intervalos de tons menores entre elas. Esse é um mandamento aplicado de George Martin, produtor dos Beatles, a Rick Bonadio, produtor musical deMamonas Assassinas, Charlie Brown Jr., Los Hermanos, entre outros. Uma sequência eficaz de notas é o que torna aquela melodia “catchy”.

Ritmo, gancho, repetição, notas. Some isso e temos uma música-chiclete. Separamos algumas músicas, de diferentes gêneros, para você observar o que elas têm em comum.

Maroon 5 – Moves Like Jagger ft. Christina Aguilera

Katy Perry – I Kissed A Girl

Henrique e Juliano – LIBERDADE PROVISÓRIA

Deep Purple – Smoke on the Water

Queen – We Will Rock You

Lady Gaga – Bad Romance

Pharrell Williams – Happy

Thiaguinho MT feat Mila e JS O Mão de Ouro – BROTA NO BAILÃO PRO DESESPERO DO SEU EX

https://www.youtube.com/watch?v=j26GqKj_GNE

Michel Teló – Ai Se Eu Te Pego

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